Sabemos que hoje existe uma variedade muito grande de blogs. A blogosfera complexificou-se de tal forma que as primeiras definições sobre blogs passam a revelar suas limitações. Se em um primeiro momento a imprensa e a academia apressaram-se a comparar blogs como diários pessoais e vincular sua produção a uma atividade confessional de jovens, hoje vemos um crescente número de grandes corporações mantendo blogs como estratégia mercadológica e promocional (veja meu post sobre os dados do Technorati e Ibope). Além disso, os probloggers vêm provando que o blogar pode ser uma atividade rentável, até mesmo sem qualquer relação com as tradicionais instituições midiáticas. Por outro lado, estas mesmas organizações passaram também a explorar a blogosfera. Logo, as visões essencialistas sobre blogs pouco podem ajudar.
Diante dessas atualizações e dos desafios que a blogosfera impõe ao pesquisador, desde o início do ano venho trabalhando em um método que possa delimitar os diferentes gêneros de blogs. A matriz para a tipificação de blogs abaixo é o resultado dessas reflexões (sugiro que, após você ler a argumentação a seguir, visite a versão hipertextual da matriz).
A matriz acima foi sendo lentamente desenvolvida a partir de uma insatisfação com tipologias de blogs que eu conhecia. Algumas delas classificavam blogs por suas temáticas (blog jornalístico, blog educacional, etc.). Outras delimitavam 4 ou 5 tipos e sugeriam grandes categorias como "outros" ou "mistos" (como a de Herring et al). Apesar dessas tipologias terem nos servido por algum tempo, a complexificação da blogosfera acabou inflando essas últimas categorias. Logo, tais tipologias acabaram ficando enfraquecidas com o tempo.
Mas como cheguei àqueles 16 gêneros de blogs? Ao observar os quadrantes de Krishnamurthy (citado por Herring et al), observei que outras dimensões deveriam ser consideradas em um estudo de blogs. Parti então do mais óbvio: existem blogs individuais e coletivos, o que já modifica as condições de produção e administração do blog. A seguir, busquei avaliar como se dão as interações (internas e com as audiências) e a relação do blogar com o trabalho e com o cotidiano (dimensão interações formalizadas/interações cotidianas). Quanto ao conteúdo, busquei investigar se os textos voltam-se para questões dos próprios blogueiros (quando falam de si, de suas relações e das próprias atividades) ou quando tratam de outros assuntos (dimensão dentro/fora). A última dimensão (reflexão/relato) visa observar a estratégia discursiva preferida: existe argumentação crítica ou apenas uma exposição de fatos? Vale lembrar que as linhas pontilhadas e setas no desenho das dimensões visam ilustrar um gradiente, uma variação contínua de intensidades.
A partir do cruzamento dessas dimensões, encontrei 16 gêneros: (1) profissional auto-reflexivo; (2) profissional informativo interno; (3) profissional informativo; (4) profissional reflexivo; (5) pessoal auto-reflexivo; (6) pessoal informativo interno; (7) pessoal informativo; (8) pessoal reflexivo; (9) grupal auto-reflexivo; (10) grupal inforativo interno; (11) grupal informativo; (12) grupal reflexivo; (13) organizacional auto-reflexivo; (14) organizacional informativo interno; (15) organizacional informativo; e (16) organizacional reflexivo.
Para um esclarecimento sobre cada um desses gêneros, visite a versão hipertextual da matriz e clique em cada uma das abas, nas dimensões (área externa da matriz) e nos gêneros. Sugiro que leia também o artigo que apresentei na Intercom 2008 onde detalho cada um dos gêneros. Lá você poderá compreender melhor porque eu classifico tanto um blog de problogger quanto o de um professor como profissional e blogs coletivos de probloggers como organizacionais.
Claro, os 16 gêneros que proponho são "tipos ideais". E como o proprio Bakhtin nos lembra, existe hibridismo entre diferentes gêneros. Contudo, não nos adiantaria querer fazer um mapa do mesmo tamanho do território (encontraríamos mais de 70 milhões de gêneros?!!!).
Em outro artigo que escrevi ("Os blogs não são diários pessoais online: Matriz para a tipificação da blogosfera") eu detalho a construção da matriz. Este trabalho (que foi escrito antes daquele da Intercom) sairá nas próximas semanas na Revista da Famecos (depois publico por aqui).
Espero que os gêneros que proponho e as dimensões de análise sugeridas provoquem novas questões em nosso contínuo debate sobre a blogosfera.
PS: Quero agradecer Elisa Höerlle pelo design hipertextual da matriz e Camile Giordani pelos retoques finais.